Estava há um tempo atrás a fim de escrever algo sobre Levi Strauss, pegando carona na celebração de seu centenário vivo. Então, me deparei com um post de Alcino Leite Neto da Folha. Ele transcreveu trechos de Tristes Tópicos. Já que estão tão bem transcritos, reproduzo-os abaixo, por pura preguiça de abrir o livro (vale dizer que isso não é caracterista de antropólogo, mas ultimamente tenho aberto mais as Vogues do que os Clássicos...rs)
... fala do luxo dos Bororo _a indumentária e os acessórios:
"Contrastando com a austeridade dos objetos utilitários, os Bororo colocam todo o seu luxo e a sua imaginação na indumentária, ou pelo menos _já que esta é das mais sumárias_ nos acessórios. As mulheres possuem verdadeiras caixas de jóias, que transmitem de mãe para filha: são paramentos de dentes de macaco ou de presas de onça incrustrados em madeira e presos por finas ligaduras. Se elas reivindicam dessa maneira os despojos da caça, prestam-se à depilação de suas próprias têmporas pelos homens que, com os cabelos de suas mulheres, confeccionam longas cordinhas trançadas que enrolam na cabeça como um turbante. Os homens também usam, nos dias de festa, pingentes em forma de mei-lua, feitos de um par de unhas o grande tatu (...), embelezados com incrustrações de madrepérola, franjas de plumas ou de algodão. (...)
Um pedaço de casca de árvore, algumas penas fornecem aos incansáveis modistas pretexto para uma sensacional criação de brincos-pingentes. Há que se entrar na casa-dos-homens para avaliar a atividade despendida por esses robustos rapazes em se embelezar: em todos os cantos, corta-se, modela-se, cinzela-se, cola-se; as conchas do rio são quebradas em cacos e polidas em mós de maneira vigorosa para se fazerem colares e tembetás; fantásticas construções de bambu e de plumas são montadas. Com uma aplicação de costureira, os homens de físico de carregadores transformam-se mutuamente em pintinhos, graças à lanugem colada direto na pele" ("Tristes Trópicos", págs. 212-212, Companhia das Letras).
Bom, isso foi suficiente para dizer que o luxo não é uma invenção do capitalismo, nem mesmo prerrogativa das aristocracias e elites burgueses. Mesmo que todos nós já soubessemos disso... sempre encontro por aí pessoas que interpretam o luxo como o mal da humanidade, correspondente a uma sociedade materialista, individualista, burguesa e capitalista e por ai vai...
Todas as sociedade possuem uma cultura material riquíssima. Os significados e os usos ultrapassam a nossa capacidade imaginativa de senso comum. Muita etnografia é preciso para compreender os significados dos sistema de objetos de cada sociedade. A cada passo que se dá no sentido de compreender o sisgnificado do uso ou consumo de um objeto, afasta-se da idéia do mero culto ao objeto, aproximando-se a um amplo sistema no qual os objetos atendem as necessidades das relações sociais estabelecidas naquele contexto cultural
Mais precisamento no caso da indumentária, além das relações sociais onde estão inseridas , pode-se observar a relação dos objetos com o próprio corpo, tendo em vista a necessidade de enfeitá-lo, ou em outra compreensão, a permanente necessidade de escondê-lo, não por simples pudor, mas por não gostarmos de sua aparência natural, nua e crua.