terça-feira, 18 de novembro de 2008

O Rio é mesmo Fashion?


Nessa inauguração escolhi um assunto que está na boca do povo da moda. Pelo menos estava até ontem a noite, quando pensei em escrever. Depois da agitada semana de moda "Claro Rio Summer Fashion", ficou a dúvida: Será que o Rio é mesmo Fashion com letra maiúscula?

Não que isso seja fundamental para mim, mas para o setor da moda brasileira é, e muito. Com potencial, a moda brasileira ainda não conseguiu alcançar o mercado internacional globalizado que gera bilhões e bilhões para os países membros desse circuito. Para piorar a situação brasileira, o Rio de Janeiro sempre tão cheio de "bossa" (expressão hoje muito utilizada pelo povo da moda) está perdendo seu posto para São Paulo, que tem hoje a melhor semana de moda.
Um indicador disso é a preferência de algumas grifes cariocas em desfilar no SP Fashion Week, alengando o maior número de clientes, contatos internacionais e, portanto, retorno financeiro. Realmente, São Paulo oferrece as melhores oportunidades para quem faz moda no Brasil. Em São Paulo estão o potencial produtivo e de criação. Um grande número de Universidades formam centenas de profissionais para todos os setores da moda e essa mão-de-obra é absorvida por lá mesmo.

Voltando ao Rio e ao evento, observei alguns sinais para responder a minha pergunta. Primeiro, achei curiosa a forma como a moda foi tratada como negócio nesse evento. Geralmente a imprensa trata a moda como fantasia, como um tema de comportamento da sociedade, mas não mostra o lado industrial. O Rio Summer foi, como dizem, "sexo explícito" se comparado com as semanas de moda de Rio e São Paulo. Quem estava lá sabe que só haviam estrangeiros, a língua oficial era o inglês e o interesse central girava em torno de preocupações com o mercado internacional.

Outra observação é sobre os clichês normalmente relacionados ao lifestyle carioca. Mas se não havia cariocas entre os participantes, o que houve foi a reprodução desse lifestyle, como mercadoria, sem nenhum pudor. Os convidados, todos grandes nomes internacionais, pareciam mais contratados do que convidados. Dessa forma, tudo foi parecendo muito artificial, muito produzido e fake, o oposto do tal lifestyle carioca, "cool, despojado e informal". Então, se o "Fashion" do Rio reflete essa tríade, ele não foi vista por lá.

Quem também não viu o Fashion por lá foi Scott Shuman, fotógrafo do blog The Sartorialist. Muito esperado pelas cariocas para que o lifestyle carioca fosse eternizado em seu blog, Shuman preteriu-as pelo exótico. Deve ser porque o street fashion do Hemisfério Norte tem influenciado demais por aqui... até hoje estão usando por aí o lenço palestino... Any way, Mr. Shuman preferiu registrar pombos, quioques de Copacapana, capoeira, crianças na praia e modelos internacionais às cariocas cheias de bossa. Nesse sentido, penso que talvez o Fashion do Rio esteja mais para o exótico, como é de praxe, do que para a tríade "cool, despojado e informal".

Parece que existe bastante dificuldade em agregar valor para as marcas nacionais a partir de uma identidade brasileira, isso em razão da diversidade que tal identidade abriga. Isso parece natural, em função da vastidão do nosso território e das pessoas e culturas que nele vivem. Insisti-se no duelo Rio X São Paulo, enquanto a roupa que está sendo produzida aqui é qualidade pura criativa e tecnologica em seus valores simbólico e de uso.

Eu adoro o Rio, não sou marxista, e acho o campo da moda e sua indústria fascinantes, assim como o frisson produzido para agitar a vida de pequenos burgueses, ou não. Por exemplo, sou fã da Cantão (a mais carioca e super industrial das grifes...) e de sua direitora de estilo, Yamê Reis. Fico encantada com as criações de Isabela Capeto (todas elas) e de Ronaldo Fraga. Sobre este, sua última coleção inspirada no Rio São Francisco é incrível. Se o Rio é Fashion ou não, isso continua sendo um problemão para a indústria da moda. Mas o que a indústria têxtil, os conglomerados, as grifes, os estilistas, os pilotistas, os modelistas e as costureiras estão produzindo está lindo, do ponto de vista de criação e do potencial econômico que oferecem ao País. Se essas relações são justas ou não, e se há democracia na moda brasileira, são assuntos para um próximo post.
*Ilustração: Hannah Firmin

Nenhum comentário: